A diferença entre a Bíblia
católica e a protestante
Entenda por que a Bíblia dos
protestantes tem menos livros
Por que a Bíblia católica é
diferente da protestante? Esta tem apenas 66 livros porque Lutero e,
principalmente os seus seguidores, rejeitaram os livros de Tobias, Judite,
Sabedoria, Baruc, Eclesiástico (ou Sirácida), 1 e 2 Macabeus, além de Ester
10,4-16; Daniel 3,24-20; 13-14. A razão disso vem de longe. No ano 100 da era
cristã, os rabinos judeus se reuniram no Sínodo de Jâmnia (ou Jabnes), no sul
da Palestina, a fim de definir a Bíblia Judaica. Isto porque nesta época
começavam a surgir o Novo Testamento com os Evangelhos e as cartas dos
Apóstolos, que os judeus não aceitaram. Nesse Sínodo, os rabinos definiram como
critérios para aceitar que um livro fizesse parte da Bíblia, o seguinte: (1)
Deveria ter sido escrito na Terra Santa; (2) Escrito somente em
hebraico, nem aramaico e nem grego; (3) Escrito antes de Esdras (455-428 a.C.);
(4) Sem contradição com a Torá ou lei de Moisés. Esses critérios eram puramente
nacionalistas, mais do que religiosos, fruto do retorno do exílio da Babilônia
em 537aC. Por esses critérios não foram aceitos na Bíblia judaica da Palestina
os livros que hoje não constam na Bíblia protestante, citados anteriomente. Mas
a Igreja católica, desde os Apóstolos, usou a Bíblia completa. Em Alexandria no
Egito, cerca de 200 anos antes de Cristo, já havia uma influente colônia de
judeus, vivendo em terra estrangeira e falando o grego. O rei do Egito,
Ptolomeu, queria ter todos os livros conhecidos na famosa biblioteca de Alexandria;
então mandou buscar 70 sábios judeus, rabinos, para traduzirem os Livros
Sagrados hebraicos para o grego, entre os anos 250 e 100 a.C, antes do Sínodo
de Jâmnia (100 d.C). Surgiu, assim, a versão grega chamada Alexandrina ou dos
Setenta, que a Igreja Católica sempre seguiu. Essa versão dos Setenta, incluiu
os livros que os judeus de Jâmnia, por critérios nacionalistas, rejeitaram.
Havia, dessa forma, no início do Cristianismo, duas Bíblias judaicas: a da
Palestina (restrita) e a Alexandrina (completa – Versão dos LXX). Os
Apóstolos e Evangelistas optaram pela Bíblia completa dos Setenta (Alexandrina),
considerando inspirados (canônicos) os livros rejeitados em Jâmnia. Ao
escreverem o Novo Testamento, utilizaram o Antigo Testamento, na forma da
tradução grega de Alexandria, mesmo quando esta era diferente do texto
hebraico. O texto grego “dos Setenta” tornou-se comum entre os cristãos; e
portanto, o cânon completo, incluindo os sete livros e os fragmentos de Ester e
Daniel, passaram para o uso dos cristãos. Das 350 citações do Antigo Testamento
que há no Novo, 300 são tiradas da Versão dos Setenta, o que mostra o uso da
Bíblia completa pelos Apóstolos. Verificamos também que nos livros do Novo
Testamento há citações dos livros que os judeus nacionalistas da Palestina
rejeitaram. Por exemplo: Rom 1,12-32 se refere a Sb 13,1-9; Rom 13,1 a Sb 6,3;
Mt 27,43 a Sb 2, 13.18; Tg 1,19 a Eclo 5,11; Mt 11,29s a Eclo 51,23-30; Hb
11,34 a 2 Mac 6,18; 7,42; Ap 8,2 a Tb 12,15. Nos séculos II a IV, houve dúvidas
na Igreja sobre os sete livros por causa da dificuldade do diálogo com os
judeus. Mas a Igreja, ficou com a Bíblia completa da Versão dos Setenta,
incluindo os sete livros. Após a Reforma Protestante, Lutero e seus seguidores
rejeitaram os sete livros já citados. É importante saber também que muitos
outros livros, que todos os cristãos têm como canônicos, não são citados nem
mesmo implicitamente no Novo Testamento. Por exemplo: Eclesiastes, Ester,
Cântico dos Cânticos, Esdras, Neemias, Abdias, Naum, Rute. Outro fato importantíssimo
é que nos mais antigos escritos dos santos Padres da Igreja (patrística) os
livros rejeitados pelos protestantes (deutero-canônicos) são citados como
Sagrada Escritura. Assim, São Clemente de Roma, o quarto Papa da Igreja, no ano
de 95 escreveu a Carta aos Coríntios, citando Judite, Sabedoria, fragmentos de
Daniel, Tobias e Eclesiástico; livros rejeitados pelos protestantes. Ora, será
que o Papa S. Clemente se enganou, e com ele a Igreja? É claro que não. Da
mesma forma, o conhecido Pastor de Hermas, no ano 140, faz amplo uso de
Eclesiástico, e de Macabeus II; Santo Hipólito (†234), comenta o Livro de
Daniel com os fragmentos deuterocanônicos rejeitados pelos protestantes, e cita
como Sagrada Escritura Sabedoria, Baruc, Tobias, 1 e 2 Macabeus. Fica assim,
muito claro, que a Sagrada Tradição da Igreja e o Sagrado Magistério sempre
confirmaram os livros deuterocanônicos como inspirados pelo Espírito Santo.
Vários Concílios confirmaram isto: os Concílios regionais de Hipona (ano 393);
Cartago II (397), Cartago IV (419), Trulos (692). Principalmente os Concílios
ecumênicos de Florença (1442), Trento (1546) e Vaticano I (1870) confirmaram a
escolha. No século XVI, Martinho Lutero (1483-1546) para contestar a
Igreja, e para facilitar a defesa das suas teses, adotou o cânon da Palestina e
deixou de lado os sete livros conhecidos, com os fragmentos de Esdras e Daniel.
Lutero, quando estava preso em Wittenberg, ao traduzir a Bíblia do latim para o
alemão, traduziu também os sete livros (deuterocanônicos) na sua edição de
1534, e as Sociedades Biblícas protestantes, até o século XIX incluíam os sete
livros nas edições da Bíblia. Neste fato fundamental para a vida da Igreja (a
Bíblia completa) vemos a importância da Tradição da Igreja, que nos legou a Bíblia
como a temos hoje. Disse o último Concílio: “Pela Tradição torna-se conhecido à
Igreja o Cânon completo dos livros sagrados e as próprias Sagradas Escrituras
são nelas cada vez mais profundamente compreendidas e se fazem sem cessar,
atuantes.” (DV,8). Se negarmos o valor indispensável da Igreja Católica e de
sua Sagrada Tradição, negaremos a autenticidade da própria Bíblia. Note que os
seguidores de Lutero não acrescentaram nenhum livro na Bíblia, o que mostra que
aceitaram o discernimento da Igreja Católica desde o primeiro século ao definir
o Índice da Bíblia. É interessante notar que o Papa São Dâmaso (366-384), no
século IV, pediu a S.Jerônimo que fizesse uma revisão das muitas traduções
latinas que havia da Bíblia, o que gerava certas confusões entre os cristãos.
São Jerônimo revisou o texto grego do Novo Testamento e traduziu do hebraico o
Antigo Testamento, dando origem ao texto latino chamado de Vulgata, usado até
hoje.
felipeaquino@cancaonova.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário